"sentir é estar distraído"
- Un addio,Luana!
- 27 de ago. de 2020
- 3 min de leitura
Eu já havia me deitado, mas eu me sentia como se o meu dia tivesse me dado tanto o que pensar, mas tanto, que nenhuma palavra expressada pudesse fazer com o que o silêncio do quarto silenciasse.
Então vim aqui escrever, sem saber mesmo em que rumo isso pode me levar. To com umas palavras do Rubem Alves na cabeça, do curso de escutatória dele, sabe?

Adoro escutar as histórias das pessoas, adoro escutar as impressões e amo, amo muito escutar os olhares das pessoas sobre coisas cotidianas. É UM PRAZER imaginar suas palavras!
Mas acontece uma coisa muito engraçada comigo desde que sou pequena, todas as vezes que não me sinto a vontade com alguém ou com pessoas, me obrigo a falar. Daí eu falo, falo, falo, conto varias coisas, e fofoco e não consigo parar até que me sinto tão esgotada que tudo que eu penso é em como eu queria sair dali.
Já aconteceu com você? Você fica se sentindo na obrigação de ter algum papo, ou demonstrar interesse, ou que se você se calar vão cair em um silêncio pavoroso por que o que é o silêncio senão a intimidade? Então me dá uma epifania e você sai contando o que vem na sua cabeça? Isso é diferente de opinião, porquê sua opinião você expressa, presume-se que a partir de algum conhecimento que você possui sobre determinado assunto, e assim deixa de ser uma história. Acho que Rubem Alves sentiu-se assim quando escreveu essas palavras...ele tava tendo uma epifania por não aguentar mais expressar opinião que fosse e então ouvir o som desconfortável das pessoas competindo com falácias quaisquer para levar a posição final de merecimento da razão.
Por isso amo histórias. Também gosto de opinião, claro, mas cada vez mais percebo que as pessoas não querem escutar opiniões para fomentar a reflexão, mas para permanecerem em suas tribos sendo apoiadas por pessoas que tem a mesma opinião, sem a distração do oponente.
Algumas pessoas, ao contrário, tenho logo uma identificação. Com essas sou capaz de conversar o dia todo, até confesso que me freio respeitando e dando espaço para poder tê-la com mais vagareza, me distraindo nas nuances de suas falas. Mas ainda não sei por que não me afasto daquelas que me deixam surda e desorientada, EU Tenho nelas certo dever parece, é como se eu precisasse estar ali, exemplificar, explicar ou qualquer outro termo que você encontre para um ato de fala.
Talvez seja por isso que sinto tanto prazer em atividades solo, ou lugares mais vazios... no meu álbum favorito de Maria Bethânia ela registra em "carta de amor" essas palavras: "Onde vai, valente? Você secô, seus olhos insones secaram Não vêem brotar a relva que cresce livre e verde, longe da tua cegueira Seus ouvidos se fecharam à qualquer música, qualquer som Nem o bem, nem o mal, pensam em ti, ninguém te escolhe
Você pisa na terra mas não sente apenas pisa Apenas vaga sobre o planeta E já nem ouve as teclas do teu piano Você está tão mirrado que nem o diabo te ambiciona Não tem alma, você é o oco do oco, do oco, do sem fim do mundo"
É a multidão que grita, são as pessoas que imploram falas e grandes discursos para preencher o oco, do oco, do oco, por que suas memórias já secaram, e elas não mais observam registrando o ato em si, mas procuram como zumbis sanar a fome de barulho, de informações, pra provocar sentimentos nelas....
Para muitas coisas eu recomendo logo muito barulho e até mesmo a balbúrdia, pois ali são necessárias. Mas para a rotina, grandes doses de silêncio são necessárias para evidenciar e até mesmo tratar questões que não podemos ignorar, pois é preciso senti-las. Não é suficiente fazer silêncio de fora, temos que fazer silêncio de dentro também, tão bem silenciado que fiquemos no modo NÃO PERTUBE, que pode ser encarado aqui como a distração...
Quando me deito na cama, e pego meu celular para falar com quem quero realmente falar, ou para ler o que realmente quero ler, me livro dos pensamentos, e como que quem silencia o mundo e passo a escutar em tudo que leio ou que digo exatamente aquilo que poderia ser. E se necessito dos pensamentos, preciso de uma pausa ou até mesmo de reler pra entender com respeito o que foi-me dito.
Fernando pessoa disse que "sentir é estar distraído" e eu me distraio muito fácil, em histórias e na capacidade de imaginar os detalhes de tudo, a minha mente me trai, me deixando ansiosa por imaginar, questionar e querer respostas que agora com sono dificilmente viria a qualquer um de nós.
Então vou encerrar a peleja aqui e dar a descansada consideração ao meu ser. Um excelente dia, seja aonde estiver!
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