Super estímulo e a quarentena

Olá, bem vindo ao podcast Un addio Luana e essa é mais uma tentativa de fazer um blog falante pra vocês. Postei no meu instagram um stories aberto pedindo que me dissessem sobre algo que gostariam de ouvir no podcast. Em especial trouxe 3 sugestões:

"ano sabático, no caso esse que está sendo na força do ódio" "como lidar com sua saúde mental na pandemia" "nada"

Eu achei que essas 3 sugestões tem tudo haver uma com a outra e o sentimento é o mesmo.

Primeiro se pensarmos em ano sabático, já criamos a ideia de algo que não é regular. Apesar de no Brasil a quarentena ter esse aspecto de maior flexibilidade e normalidade que em outros países. Para o brasileiro a restrição de não poder sair para restaurantes, bares, shows, cinema etc está deixando a realidade totalmente distorcida. Por isso dizer ironicamente que está sendo um ano sabático na força do ódio. Com essa drástica mudança muitas coisas que antes não se destacavam na vida das pessoas, agora faz parte do mais importante. Ficar em sua casa por exemplo se tornou algo essencial e isso tem gerado uma onda de status e publicações do tipo: AI QUE TÉDIO

Esse sentimento de tédio é normal, afinal com a sensação de liberdade ficar em casa é um opção, mas quando nos tiram essa escolha se torna então algo claustrofóbico. Gerando em nós ansiedade extrema e nos questionando sobre nossa saúde.

Agora eu estava pensando na outra sugestão que é como lidar com sua saúde mental na pandemia, e para mim é a mais difícil, por que por mais que eu diga situações que possam te ajudar, pode ser que elas não seja do seu agrado, por isso vou falar do que eu tenho feito: Primeiro devo ressaltar que sou uma mulher muito caseira e isso me ajuda muito quando se trata da quarentena, pois pra mim não está sendo uma ano tão sabático assim... eu sou muito simples no meu modo de viver e já trabalhava em casa, sou uma pessoa que realmente aproveita sua casa, tenho hábitos de solitude, como tomar café ou chá ouvindo musica e deitada na rede, porém distante do celular, capiche? Aliás celular é o primeiro que abandono quando penso em relaxar. Minha profissão exige muito o uso dele e eu tomo distância para que assim meu momento realmente seja de relaxamento. Eu gosto de aprender, então sempre estou tentando coisas novas, como desenhar que tem sido difícil, mas eu continuo tentando, ou jogo algum joguinho no celular ou computador, ou busco algum livro, ou tento algum acorde no violão, ou vejo animes e filmes, ou escrevo cartas (sim, um dia falo disso aqui), ou brinco com os cachorros, ou entro em call com amigos, ou me divirto em um bate-papo em grupo, ou cozinho, ou durmo ...ENFIM...são tantas coisas, que como podem ver, eu não consigo fazer tudo em um dia. Mas Luana, o que fazer eu também tenho, mas não aguento mais a quarentena. Bom é por isso que eu falei de super estimulo lá atrás. Todos sabemos que se você tirar 30 minutos de exercício por dia, em 1 mês esses 30 minutos não serão nada comparado com a dificuldade do primeiro dia certo? Agora imagina você a no mínimo 5 anos usando celular para estimular seus dias e suas informações, consultando razoavelmente umas 100 vezes a tela para saber se há algo novo? Sim, você pode estar me dizendo que o seu celular é a unica coisa que tem salvo você nessa quarentena, e eu to te dizendo que ele também é a que te mais te frustra. Celulares tem sido responsáveis por estimular a mente nos últimos anos e isso na quarentena está te causando uma overdose e te convertendo a necessidade de realmente reproduzir algo real.

Estimulo é um empurrão dado para que você se sinta motivado a fazer, agir ou pensar algo. Seja o que for. Um super estimulo é o que sofremos quando somos bombardeados por inúmeros empurrões. O feed do facebook por exemplo, as dez primeiras coisas que aparecem pra você hoje, são dez informações diferentes levando você a pensar sobre elas, mas não profundamente, apenas notar, sem refletir e sem concentração, certo?

Agora quero falar da ultima sugestão que me deram "o nada". Quando eu li isso, eu automaticamente associei que a pessoa fazia uma critica sobre como todos tem resolvido falar de algo, e não ter NADA seria excelente pra variar, são tantas lives e conteúdos que o melhor tem sido optar por não consumir nada. Mas depois de refletir um bom tempo, cheguei a conclusão que falar do nada era desse imenso vazio que se tornou a quarentena ou nossas vidas, na real. Fizemos tantas vezes o exercício de apenas consumir informações no feed de forma rápida que agora que temos que nos concentrar pra pintar, ouvir musica, ver 2 horas de um filme, ou parar para ler um texto mais longo, NÃO CONSEGUIMOS. O super estimulo nos deixou habituados, é como estár dormente e agir como se estivesse sentindo pela primeira vez a necessidade de entender. Sentamos com amigos e somos capazes de conversar clicando em outras noticias e respondendo mensagens em 3 apps diferentes. Estamos a todo vapor estimulados e anestesiados em relação a nossa existência e o ano sabático forçado pela quarentena te fez se sentir mais lento, sem tanta pressa, com menos estimulo que antes.

Por isso a ansiedade tem tomado conta. E por falar nisso, ansiedade foi o tema mais sugerido. Por que como não estar ansioso diante desse sentimento de que a vida não está fluindo para frente por não estarmos enchendo ela com nossos likes? Estamos ansiando desesperadamente para que tudo volte ao normal e não tenhamos que lidar com nos mesmos em casa, com nosso mau hábito de não concentrar, ou de não saber estar de boa sem o estimulo do celular. Não estamos muito diferentes da sensação de vício, só é diferente porquê não temos a parte feia da degradação, mas ainda continuamos viciados a sermos super-estimulados o tempo todo, partindo de nós mesmos, do cliques em nossas fotos e os likes em nossas publicações. Mas vigiem as saídas, não deixe que sua mente atrofie buscando apenas na visão do fim da quarentena a solução pra ansiedade e pra melhorar a saúde mental. Se permita verdadeiramente ao hábito sabático, com o celular na mão você tem um mundo inteiro pra sair de casa também, mesmo que seja numa tarde deitado falando e imaginando coisas com a pessoa que você gosta, ou jogando, ou lendo, faça isso de verdade sem terceiras funções ao mesmo tempo, apenas ali, apenas existindo e aproveitando o momento.